sexta-feira, 14 de março de 2014

Poesia não é verso


Poesia não é negação de prosa: é faísca, desvio, gozo, é um relâmpago de improvável, é incerteza, arrepio, crespa que se abre brecha no tecido liso da palavra. Poesia é o cotidiano aos olhos de um viajante. Poesia não é verso: é a palavra instável, inadequada, obscena, inútil, por isso mesmo a palavra imprescindível, onde quer que desabroche. Poesia é sujeira, é merda, é esperma, é mijo, é vômito, é medo, é neurose, é obsessão, é entrelinha, é a beleza, a impermanência, a verdade e a mentira de tudo isso: poesia é abrir os olhos e estar aqui. Somos todos prosadores, soltando vez por outra fagulhas de poesia.

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