sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Correr...

Antes o vento o acompanhava, agora ele é o vento. Correr, não importa para onde, não importa de quem ou de quê: apenas, correr. Cruzar as entranhas úmidas da mata fechada, galhos rachando sua face, arbustos rasgando sua pele, um farfalhar distante a persegui-lo sem descanso, sem piedade, sombra indelével, produto talvez de seu próprio delírio. Fugir pela mata adentro, esconder-se dos capitães-do-mato. Correr por becos recônditos, veias ocultas e fétidas de uma maçã sem rosto, o coração eclodindo, sem fôlego, e silhuetas distantes de agentes a acossa-lo. Correr por ruas enlameadas, esconder-se entre amontoados de lixo, chafurdar em poças de esgoto, a garganta estilhaçada, o medo infiltrando-se entre as fendas da respiração retida, e fardas pretas à espreita em toda esquina. Correr, só correr, correr na madrugada, nos pesadelos e nas vigílias. Talvez, simplesmente correr se si mesmo.

Sinopse de uma história que tocou à minha porta numa madrugada qualquer e que, algum dia, tomará forma.

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